Com lágrimas e muita emoção, 47 bombeiros da corporação de Tondela, no distrito de Viseu, apresentaram hoje à noite a sua demissão.
Esta foi a forma que encontraram para se solidarizar com o comandante, Eduardo Rolo, que cessa funções à meia-noite de segunda-feira.
No princípio de Outubro, a direcção informou Eduardo Rolo de que não seria reconduzido no cargo de comandante, cessando funções a 31 de Outubro.
«Falta de diálogo e indisciplina» foram algumas das razões apontadas pelo presidente da direcção da Associação dos Bombeiros Voluntários de Tondela, Graciano Simões, para a não recondução do comandante.
As relações entre o comando e a direcção, empossada a 7 de Janeiro passado, vinham-se deteriorando.
No princípio de Junho, o comandante Eduardo Rolo tinha ameaçado formalizar o pedido de demissão dos cinco elementos do comando, alegando «falta de diálogo» com a direcção e também de material.
A situação agravou-se quando o presidente da direcção «se deslocou ao habitual fornecedor de combustíveis para questionar se algum bombeiro se servia dos cartões das viaturas da corporação para abastecimento próprio», alegou o comandante da corporação.
Graciano Simões veio responder publicamente ao comandante no final de Julho, acusando-o de passar informações falseadas e deturpadas, rejeitando que tenha havido falta de diálogo ou de apoio material.
Hoje à noite, foi afixado à entrada do quartel o nome dos 47 bombeiros que apoiam o comandante e que por isso decidiram «passar à inactividade por tempo indeterminado».
Luís Caetano, bombeiro há mais de seis anos, declarou: «Estamos solidários com o comandante e estamos dispostos a regressar caso permaneça».
Micaela Lopes, uma das bombeiras mais novas da casa, leu uma carta de apoio a Eduardo Rolo em que se realçam as suas qualidades enquanto comandante e pessoa.
«Sinto-me revoltada com a forma como temos de sair, mas só podemos estar ao lado do nosso comandante», alegou.
O comandante dos Bombeiros Voluntários de Tondela mostrou-se comovido com a atitude de 47 dos seus bombeiros e garantiu que sai «de cabeça erguida».
«Tenho aqui um punhado de homens que não me viraram as costas», acrescentou, indicando que irá avançar com uma batalha jurídica contra a direcção.
«Não vou recuar, gaste o que gastar, exijo, em nome dos 14 anos que aqui estive, que seja reposta a verdade», referiu.
Segundo o comandante, foram reunidas as assinaturas de 159 sócios a convocar uma Assembleia-Geral, que pediram por duas vezes, mas a reunião nunca foi marcada.
«O presidente da Assembleia será julgado quanto mais breve possível e o presidente da Câmara Municipal de Tondela, enquanto primeiro responsável pela Protecção Civil, tem de justificar a população e sócios porque nunca interveio», disse ainda.
Também o adjunto dos Bombeiros de Tondela, Amadeu Jesus, contou que a saída de quase meia centena de bombeiros fica a dever-se à ausência de diálogo.
«Não nos resta outra solução a não ser ir embora», lamentou.
Jorge Manuel, 39 anos e sócio dos Bombeiros Voluntários de Tondela desde que nasceu, mostrou-se descontente com a não realização da Assembleia-Geral.
«Fui um dos sócios a pedir a sua convocação. Não era o comandante nem o corpo activo a pedir, a vontade dos 159 sócios devia ter sido ouvida», concluiu.
Sem comentários:
Enviar um comentário