sexta-feira, setembro 15, 2006

Prevenção e Segurança

por José Picoto
(Comandante do Corpo de Bombeiros da Associação dos Bombeiros Voluntários de Setúbal)


“Não há quem mande neste País e ponha ordem nesta situação. Até parece que somos ricos para andar nesta cegada”.


Esta frase, retirada do final de um artigo publicado no ultimo numero do jornal “Bombeiros de Portugal” traduz, decerto, o estado de espírito de muitos milhares de concidadãos que, assistindo estupefactos e sem entender o que se está a passar num sector que é responsável por uma vertente essencial da SEGURANÇA das populações.


No caso, referia-se ao INEM e á sua estratégia concertada e “secreta” de pseudo-dominio da área do socorro pré-hospitalar. Depois de anos e anos recorrendo aos bombeiros como garante do socorro das populações, com as naturais lacunas, que não são para se esconder, mas para corrigir, isso sim, em benefício dos utentes, assiste-se desde há um tempo a esta parte ao “descolar” daquele Serviço da estrutura “Bombeiros”.

Isso é patente no facto de aquele Instituto Público dizer não ter verbas para a formação dos tripulantes de ambulância nos corpos de bombeiros, nem tão pouco para a renovação dos veiculos sob responsabilidade destes ultimos. No entanto, já há dinheiro para a colocação de unidades e tripulações daquele instituto em áreas de actuação onde o serviço é já assegurado por corpos de bombeiros e outras entidades (“a amarelinha”).

Assiste-se à duplicação dos meios no terreno, o que á partida poderia ser interpretado como um sinal positivo. Desengane-se o estimado leitor, pois que, até à data, tal apenas tem provocado descoordenação e desentendimento na prestação do socorro, com duplicação de meios numa mesma ocorrência, meios esses que poderiam ser uteís noutras ocorrências que se possam entretanto registar.

E tudo porque, o INEM quer trabalhar à parte, como estrutura autónoma, não colaborante com o restante do sector do socorro, normalmente sob responsabilidade dos bombeiros. Fala-se na criação de centrais unicas de socorro, onde todas as entidades (inclusivé o INEM) teriam assento e, assim, de forma concertada, se faria uma correcta e adequada gestão dos meios de intervenção.

Quem estiver de fora, a olhar com olhos de ver, questionar-se-á se somos assim tão ricos que possamos manter Centrais de Coordenação do INEM, Centrais de Coordenação de Bombeiros, Centrais de Despacho de Meios de Socorro da Cruz Vermelha, Centrais da PSP ou da GNR... tudo mantido á custa do “Zé Contribuinte”!

E quando os bombeiros portugueses, cientes das suas responsabilidades reclamam desde há anos a dotação financeira que lhes permitam a manutenção de, pelo menos, uma equipa de intervenção de socorro que assegure sempre a capacidade de intervenção, sem que tal tivesse até à data surtido qualquer efeito, - tal capricho de criança mimada que deve ser ignorado- descobriram agora os nossos governantes que a solução é a criação de uma estrutura de comandantes própria, com Comandantes nacionais (8), distritais (36) e outros mais, bem como uma estrutura de suporte (Centros de Coordenação ) e, o que mais lhes aprouver. O problema não está na decisão em si, pois que lhes compete decidir (de preferência acertadamente).

Mas esta estrutura tem custos, e não são tão poucos quanto isso. E eis que se criou um grupo de “generais” sem exército!... Ahh, pois. Porque, em Portugal, o Estado não tem bombeiros e, não são os 350 GNR’s que estão agora a ser “injectados” no sistema que poderá ser considerada a estrutura de bombeiros do País. É que, os cerca de 40.000 homens que constituem a actual estrutura de bombeiros voluntários são-no na dependência de entidades privadas – as Associações de Bombeiros Voluntários. Não são bombeiros do Estado! E, se por acaso, os dirigentes dessas associações deliberassem retirar do ambito dos seus fins, o combate aos incêndios, transformando as associações em, por exemplo, associações de bem-fazer e solidariedade? Ficava o quê?... Um grupo de “generais” pagos pelos Estado para comandar então sim, 350 militares da GNR investidos em bombeiros.

E para quem pensa que assim deverá ser, no futuro, com o País a criar a sua estrutura de bombeiros estatais, desprezando aquilo que é impar no mundo, mas que nós orgulhosamente ostentamos e exibimos, que é o facto de sermos bombeiros voluntários, recomenda-se então a consulta do orçamento camarário para a manutenção de um (e um só) corpo de bombeiros profissionais. Em Setúbal, há uns tempos atrás, tal não andava longe de uns oitocentos mil contos anuais. Mas, o que é isso, para nós os ricos?...



retirado de: Setúbal na Rede

1 comentário:

Reinaldo Baptista disse...

Gostei do seu artigo, e mostra que algo anda muito mal no sistema de socorro em Portugal, em vez se manter e cuidar o que já existe, andasse a criar estruturas paralelas com os memos fins, somos um Pobre com vícios de ricos